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Recordando a Wolinski

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André Conti é o publisher de quadrinhos da editora Companhia das Letras. Acompanha há muitos anos o Charlie Hebdo, jornal que foi vítima de atentado brutal em Paris, assim como o ambiente de quadrinhos na França, um dos mais dinâmicos e variados do mundo.

Conti respondeu para o blog quatro perguntas sobre o Hebdo e os quadrinistas mortos no atentado, alguns deles entre os mais importantes da França.

- Conti é meu colega na editora e trabalha a meu lado. Se alguém disser que este post é uma ação entre amigos, acertará na mosca. 

- Qual a importância do Charlie Hebdo no universo das charges e quadrinhos?

- O Charlie Hebdo sempre foi uma das vozes mais radicais da esquerda francesa. A primeira versão surgiu em 1969, e foi criada por artistas envolvidos tanto com a Hara-kiri quanto com a L’Enragé, duas revistas satíricas que foram vozes importantes no maio de 68. Sempre foi um contraponto importante à direita francesa e uma crítica ferrenha dos governos (uma piada com a morte do De Gaulle quase fechou as portas da publicação). Também projetou alguns dos nomes mais importantes da sátira política francesa, como o Wolinski, Fred (da série Philémon)e Jean Marc-Reiser.

Entre os mortos no ataque, estavam os cartunistas Wolinski, Carb, Chabou e Tignous. São figuras conhecidas no meio? Qual a importância do trabalho deles?

São instituições do quadrinho francês. Fazem parte — perdão infinito — do tecido cultural da França. Estiveram lá do maio de 68 em diante, colocando governos, instituições, organizações religiosas, grupos políticos etc contra a parede. Tinham alcance, leitores, detratores, participaram de dúzias de polêmicas nas últimas décadas. Eram também cartunistas de mão cheia, de humor afiado e talento incrível.

Você disse que Wolinski seria uma espécie de “Laerte da França”. Pode explicar a afirmação?

Talvez a comparação mais correta seja com o Angeli, por conta do trabalho mais longo nas charges políticas. Claro que as posições são bem diferentes: o Wolinski era um comunistão ferrenho, embrenhado naquelas discussões francesas que só os franceses compreendem. Mas tinha um traço imediatamente reconhecível a qualquer leitor de jornal e um senso de humor igualmente reconhecível. Foi nesse sentido que fiz a comparação: Wolinski não era um cartunista de leitores de quadrinhos, era parte da cultura francesa, uma voz ativa e importante nos últimos cinquenta anos.

Circulam nas redes sociais propostas para que diversos jornais do mundo puliquem esta semana os quadrinhos mais polêmicos do Charlie Hebdo. Se você fosse editor de um desses jornais, você os publicaria?

Em 2006, durante a polêmica da charge do Maomé publicada na Dinamarca, o Cabu (que também morreu no ataque ao Charlie, aos 76 anos) desenhou a seguinte capa:


A chamada diz “Maomé soterrado por fundamentalistas” e ele está falando algo como “É difícil ser amado por esses idiotas”.

Seria uma homenagem e tanto a um jornal que defendeu com tanta intransigência seus artistas e suas posições.

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